Econômico e Financeiro

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Cenário macroeconômico

No cenário externo, 2024 foi marcado pela volatilidade e pela desaceleração desigual entre as principais economias.

Os Estados Unidos iniciaram um ciclo de cortes na taxa básica de juros, com o Banco Central (Federal Reserve), reduzindo a taxa de 5,5% para 4,5% ao longo do ano. Essa decisão foi impulsionada pela moderação da inflação e sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho, ainda que a economia americana tenha mantido um crescimento resiliente. O S&P500 e o Nasdaq fecharam o ano com altas em dólares de 23,3% e 28,6%, respectivamente, impulsionados pelo setor de tecnologia, especialmente pelo potencial da inteligência artificial.

A vitória de Donald Trump, com sua agenda de reformas que envolve mudanças relevantes em temas como política fiscal, tarifas, desregulamentação, energia, imigração e geopolítica, adicionou incerteza ao cenário. As medidas, vistas como potencialmente inflacionárias, afetaram as perspectivas de redução da taxa básica de juros norte-americana. Com a economia resiliente e a possível implementação de uma política comercial protecionista, o dólar se fortaleceu e pressionou outras economias, muitas das quais já apresentavam desafios significativos.

Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) iniciou um ciclo de cortes de juros em resposta à descompressão inflacionária, mas a região sofreu com estagnação econômica e desafios estruturais em economias-chave como a Alemanha. A inflação mostrou sinais de moderação, mas o crescimento permaneceu fraco, limitando a capacidade de recuperação da região.

Já na China, a luta para estimular a economia em meio a desafios persistentes no setor imobiliário e baixa confiança do consumidor continuou. O governo lançou amplo pacote de incentivos fiscais e monetários, incluindo redução de compulsórios e injeção de liquidez, e indicou novas medidas expansionistas para 2025. Apesar disso, a economia chinesa encerrou o ano com uma percepção de fragilidade.

O ano de 2024 encerrou com expectativas mistas para 2025. O foco estará em como as economias desenvolvidas ajustarão suas políticas monetárias, o impacto de novas lideranças globais e a capacidade dos mercados emergentes de navegar em um ambiente de riscos fiscais e geopolíticos.

O ano de 2024 apresentou um panorama econômico complexo no Brasil, caracterizado por crescimento robusto acompanhado de desafios fiscais e inflação persistente.

Tal crescimento surpreendeu positivamente ao longo do ano. As previsões do fim de dezembro de 2023, que previam expansão em torno de 1,5%, foram superadas e, no fim de 2024, os dados apontaram uma estimativa de expansão acima de 3,0%.

Essa dinâmica foi apoiada pelo aumento do consumo e do investimento e estimulada por três fatores principais: expansão do crédito, aumento da massa salarial, com níveis de desemprego batendo mínimas históricas, e gasto fiscal. O contraponto desse crescimento foi uma crescente pressão inflacionária.

O gasto fiscal foi tema relevante em 2024. O governo implementou medidas de estímulo econômico, incluindo o aumento de programas de transferência de renda, subsídios e incentivos fiscais voltados ao consumo das famílias e ao apoio a setores estratégicos. Embora essas iniciativas tenham ajudado a impulsionar o crescimento do PIB, elas também geraram preocupações quanto à sustentabilidade da dívida pública, especialmente devido à ausência de reformas estruturais do lado da despesa.

A falta de perspectiva de contenção de despesas e uma rápida expansão do endividamento público colocaram o Brasil sob uma maior avaliação dos mercados financeiros. Isso causou impacto no mercado de câmbio, com o dólar batendo valores historicamente altos, o que intensificou a desancoragem nas expectativas de inflação.

Esse cenário fez com que o Banco Central ajustasse seu posicionamento ao longo do ano. No começo de 2024, o país iniciou o ciclo de cortes na taxa Selic, que caiu de 11,25% em janeiro para 10,50% em maio. A decisão foi sustentada por sinais iniciais de desaceleração da inflação. Porém, com a crescente pressão inflacionária se desenhando ao longo do segundo semestre, e a forte variação das expectativas dos agentes econômicos, o Banco Central reverteu o ciclo de cortes de juros em setembro, levando a taxa Selic a 12,25% no fim de dezembro. O mercado, prevendo dificuldades para levar a inflação ao centro da meta mesmo com o nível de Selic contratado, passou a precificar patamar de juros terminal ainda maior.

Os resultados do mercado financeiro refletiram esse ambiente desafiador. O índice Ibovespa encerrou o ano com uma queda acumulada de -10,36%, impactado especialmente por setores sensíveis à alta dos juros, como varejo e imobiliário. O índice IMA-B5+, que mede o desempenho de títulos públicos indexados à inflação com vencimentos acima de cinco anos, acumulou perda de -8,63% no ano, refletindo a piora das expectativas fiscais. Apesar das adversidades, o mercado de crédito privado demonstrou resiliência, com emissões e compressão dos spreads, marcando recuperação após a crise de confiança dos investidores em 2023.